O ESFORÇO ACADÊMICO DE GRADUANDOS DE CURSO A DISTÂNCIA: A PERSPECTIVA “HEROICA” E AS NECESSIDADES CONVERTIDAS EM VIRTUDES
DOI:
https://doi.org/10.26694/les.v0i44.9691Palavras-chave:
Esforço acadêmico, Pedagogia, Educação a distânciaResumo
Esse artigo parte da seguinte questão: como graduandos de curso a distância interiorizam e exteriorizam a ideia do esforço acadêmico, considerando a sua posição social no campo da graduação na educação superior pública? Além de analisar tal questão, o artigo também identifica a trajetória familiar e escolar dos graduandos, suas práticas culturais e de lazer e as particularidades da EaD, tendo como eixo a reflexão sobre o esforço acadêmico. Bourdieu é tomado como referencial teórico de análise. A discussão também se relaciona a aspectos da literatura sobre o contexto de acesso, permanência e vivência acadêmica na educação superior (ALMEIDA, 2006; SETTON, 2005; ZAGO, 2006); sobre a EaD (PIMENTA; LOPES, 2014; SILVA; TAVIRA, 2013); sobre o perfil dos estudantes (LOPES, LISNIOWSKI e JESUS, 2012; REIS, 2014; SILVA, 2015); em relação ao esforço acadêmico (ALMEIDA, 2006; NETTO, 2011) e aquisição de um capital cultural não herdado (NOGUEIRA, 1997). O resultado das seis entrevistas semiestruturadas com graduandos, na faixa etária aproximada dos 30 anos a 46 anos de idade, no enfoque metodológico da reflexividade reflexa de Bourdieu (2012), concluiu que os trabalhadores-estudantes abdicam ou tornam menos intensas certas necessidades, a exemplo do sono (necessidade biológica), do tempo de convívio com a família (socioafetivas), sendo que esses elementos vão constituindo parte das virtudes morais desses estudantes pelo sentido prático de dar exemplo para os demais membros da família (ser esforçado é “não ter preguiça”, naturalizando o conceito de esforço), em relação à expectativa de distinção social pela conquista do diploma de uma instituição pública.
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