Futuros possíveis da cannabis medicinal: “sociedade”, “mercado” e “Estado” em um seminário internacional
DOI:
https://doi.org/10.26694/rer.v6i2.5756Palavras-chave:
Maconha medicinal, Regulamentação, Movimentos sociaisResumo
O artigo traz à luz uma experiência de campo em 2018, na qual uma associação de pacientes de cannabis medicinal organizou um grande evento internacional de caráter científico e político, no Museu do Amanhã, centro do Rio de Janeiro, quando um anúncio inesperado criou um burburinho no salão. O seminário, vivenciado durante pesquisa de doutoramento, será tomado como caso para estudo que possibilitou observar relações e tensões entre diferentes atores reunidos em torno do uso medicinal da maconha. Entendendo que a abertura e o encerramento de eventos são momentos de manifestos, evidentemente políticos, destaco em especial as falas do então diretor-presidente da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), que permitem refletir sobre o papel imaginado para esta instância do Estado, assim como aquele esperado para organizações que não se veem como parte do Estado, como as associações civis de pacientes. E, da mesma forma, permitem vislumbrar os papéis não imaginados ou as relações não admitidas em termos de administração pública. A forma de financiamento do evento, com participação de empresas privadas, e certa reação criativa de parte do ativismo canábico são também abordados, de modo a construir uma reflexão sobre as moralidades envolvidas no fazer político.
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