O GPS perde pra mim longe! Cartopráticas e políticas caiçaras em navegação no mar de dentro

Authors

  • Karina da Silva Coelho Doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.26694/rer.v2i1.10479

Keywords:

Conhecimento, Território, Movimento, Cartopráticas

Abstract

Caiçaras e pescadores artesanais da região do Lagamar (na divisa entre o litoral paulista e paranaense) agenciam conhecimentos e percepções muito renados para se orientarem no mar durante a navegação. Neste artigo descreverei as formulações de alguns interlocutores sobre as práticas de marcar pontos e reconhecer poitadas ou pesqueiros no mar de dentro. Quando me explicam sobre o uso dessas técnicas para mapear ou marcar lugares bons para pesca, eles sempre enfatizam sua precisão, pois o acúmulo desses conhecimentos capacita o pescador a se orientar de maneira muito mais precisa que um GPS. Navegar e se localizar por um território em constante movimento demanda aprender a lidar com a instabilidade do mar e da terra, pois a movimentação das marés e dos ventos e as combinações entre eles produzem distintas congurações geoespaciais em diferentes escalas de tempo. Um pesqueiro ou poitada não são pontos xos, especicação essencial para se marcarem coordenadas num GPS. Nesse sentido, proponho uma reexão sobre as técnicas, conhecimentos e políticas caiçaras como “cartopráticas”, pautadas nas experiências e associadas às práticas dos lugares, suas histórias e nos acontecimentos geológicos e cosmológicos que atravessam o território. Interessa reetir sobre a articulação política de conhecimentos que localizam pessoas, práticas e lugares de uma maneira que é inacessível à cartograa convencional; e discutir de que modo as tensões entre cartograas, conhecimentos e técnicas se relacionam com as contradições da política ambiental brasileira, demandando processos de composição e resistência no que pode ser lido como políticas de estar no mundo.

References

ALMEIDA, M. W. B. Outros Mapas (Conferência de Encerramento - INJPS). 2012.

ALMEIDA, M. W. B.. “Caipora e Outros Conflitos Ontológicos”. R@U : Revista de Antropologia Social dos Alunos do PPGAS-UFSCAR, v. 5, p. 7-28, 2014.

ANDRIOLLI, C.; LIMA, A. S.; PRADO, D. M. “A produção de um plano de uso tradicional pelos caiçaras da Juréia: um estudo etnográfico de um experimento de cooperação entre conhecimento tradicional e pesquisa acadêmica”. REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, 30, João Pessoa, 2016. Anais [...]. Brasília: ABA, 2016.

CARDOSO, T. M. “Malhas cartográficas técnicas, conhecimentos e cosmopolítica do ato de mapear territórios indígenas”. React - Rede de Antropologia da Ciência e da Técnica, v. 1, p. 1, 2014.

CARDOSO, T. M.; PARRA, L. B.; MODERCIN, I. F. “Mapas em movimento: os (des)caminhos de uma prática cartográfica junto aos potiguara”. Espaço Ameríndio (UFRGS) , v. 11, p. 71-111, 2017.

COELHO, K. Entre ilhas e comunidades: articulações políticas e conflitos socioambientais no Parque Nacional do Superagui. Dissertação de Mestrado. Departamento de Antropologia, Universidade Federal do Paraná, 2014.

________. “Entre a terra e o mar: notas sobre o direito costumeiro e a divisão do território entre famílias caiçaras do litoral norte paranaense”. In: Dossiê Pesca: Populações ribeirinhas e costeiras. Vivência: revista de antropologia. UFRN/DAN/PPGAS v. I., N 47 (jan/jun. De 2016) - Natal: UFRN. 2016.

DELEUZE, G. & GUATARRI, F. “Rizoma”. In: Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 1997.

_______¬. “Tratado de nomadologia: A máquina de guerra”. In: Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 5. São Paulo: Editora 34, 1997.

_______¬. “O liso e o estriado”. In: Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 5. São Paulo: Editora 34, 1997.

INGOLD, T. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London and New York: Routledge, 2000.

________. “A antropologia ganha vida”. In: Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

MARQUES, A.C. “Fundadores, Ancestrais e Inimigos”. In: Percurso e Destino. Parentesco e família no sertão de Pernambuco e Médio-Norte do Mato Grosso. Tese de Livre-Docência. Departamento de Antropologia, Universidade de São Paulo, pp. 180-203, 2015.

NOGUEIRA, P. R.. “Caiçaras lutam contra ‘expulsão pelo cansaço’ de Estação Ecológica da Juréia (SP)”. Jornal Brasil de Fato, São Paulo, 24 jun. 2019.

POSTIGO, A. A terra vista do alto: usos e percepções acerca do espaço entre os moradores do Rio Bagé, Acre. Tese de Doutorado. PPGAS, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas, 2010.

POVINELLI, E. Geontologies: A requiem to late liberalism. Durham, London: Duke University Press, 2016.

SNUC. Sistema Nacional de Unidades de conservação: texto da Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e vetos da presidência da República ao PL aprovado pelo congresso Nacional. - São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. 2a edição ampliada. 76 p. - (Cadernos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica : série conservação e áreas protegidas, 18). 2000.

VIEIRA, S.A. Resistência e Pirraça na Malhada. Cosmopolíticas Quilombolas no Alto Sertão de Caetité. Tese de Doutorado. PPGAS, Universidade Federal do Rio de Janeiro/Museu Nacional, 2015.

________. “Micropolítica da pirraça, ou por que resistência não é uma noção obsoleta”. Revista Fevereiro, jan. 2018.

YAMAOKA, J.G. et al. “A comunidade caiçara da Enseada da Baleia e a sua luta pelo território –Cananéia (SP)”. Guaju, Matinhos, v.5, n.1, jan./jun. 2019.

Published

2020-04-28

How to Cite

SILVA COELHO, Karina da. O GPS perde pra mim longe! Cartopráticas e políticas caiçaras em navegação no mar de dentro. Revista EntreRios do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, [S. l.], v. 2, n. 1, p. 24–40, 2020. DOI: 10.26694/rer.v2i1.10479. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/entrerios/article/view/5233. Acesso em: 25 nov. 2024.

Similar Articles

1 2 3 > >> 

You may also start an advanced similarity search for this article.