Internationalization of graduate nursing graduation: basic reflections and main challenges
Abstract
DOI: https://doi.org/10.26694/2238-7234.841-10
O Movimento da Internacionalização do Ensino Superior na Enfermagem surge, num contexto mundial, e no país não foi diferente, surgiu de forma tímida nas Instituições de Ensino Superior (IES) no século XX, nos anos 80 (criação de programas de doutorado) e nos anos 90 (advento com força da internet), como uma demanda imposta pela globalização e pela necessidade de divulgação do conhecimento aderente ao desenvolvimento politico social, econômico e cultural do país. E o Brasil atendeu essa demanda instituindo uma Politica de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, desta vez, no ensino superior coadunado as atividades acadêmicas, de um lado, como função universitária e de outro, de visibilidade do conhecimento inerente ao desenvolvimento da profissão e a necessidade societária.
A internacionalização, da Enfermagem no Brasil, desse modo acompanha principalmente os movimentos impostos pelas Agencias Brasileiras de Ciência & Tecnologia nas Universidades do país, como critério ligado ao processo de avaliação com ênfase aos Programas de Pós-Graduação, que se intensificou nas duas primeiras décadas do século XXI. Neste contexto, surgem desafios complicados e difíceis de acompanhar uma vez que esse movimento deve ter como base, principalmente três fatores facilitadores: a) vontade politica e cooperação financeira do Estado; b) gestão universitária internacional das IES; c) compromisso com a internacionalização dos gestores e educadores dos programas educativos.
A pós-graduação em Enfermagem no Brasil (CAPES, 2017) encontra-se em franca expansão constatada em três dimensões: a) aumento do número de cursos e programas; b) de egressos; e, c) da produtividade científica com publicação de artigos em periódicos de impacto na área. Assim mesmo se constatou que no período de 2014 a 2016, houve uma modificação no perfil de predominância de numero de curso no país, tendo diminuído o numero de cursos na região Sudeste (mesmo detendo ainda o maior número deles) produzindo-se um aumento nas regiões Sul e Nordeste. Neste sentido, objetivamos em quantitativos que a Área expandiu para 76 programas de pós-graduação (36 mestrados + doutorados, 02 doutorados, 15 mestrados acadêmicos e 23 profissionais) aprovados, totalizando 112 cursos, representando aumento de 17% no período.
Essas reais constatações se traduzem em relevantes reflexões para nós profissionais da Educação em Enfermagem de Ensino Superior independente do porte e tradição da universidade onde os programas estão inseridos. Senão vejamos: as universidades possuem Programas de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) avaliados pelas Capes com diferentes e variados conceitos (escala de até 7); quase todos os PPGEnf com altos conceitos estão localizados preferencialmente na regiões Sudeste e Sul; nem todos os PPGEnf desenvolvem, no país, ao mesmo tempo, os Programas de Mestrado e Doutorado (acadêmicos e profissionais); e, nem todos contam com apoio institucional e financeiro que ofereçam as condições necessárias a internacionalização.
Nesse contexto é verdade e há que reconhecer que a maioria das universidades tem criado estratégias de internacionalização de acordo com a realidade de cada universidade e programa, mormente de intercambio de estudantes e docentes e promoção de alguns eventos técnico-científicos na área para os países de América do Norte ou de Europa, tidos como desenvolvidos com predominância na língua inglesa. Esta circunstância tem criado uma situação contraditória quando constatamos as sérias limitações que as universidades e os programas têm para promover as mesmas estratégias para os países da América Latina e o Caribe que requerem também do domínio da língua espanhola. Este dilema, atualmente gera alguns desafios que há que superar inclusive porque existe na atualidade recomendações pelas Agencias governamentais de aperfeiçoamento e controle da qualidade do ensino superior um chamado para estratégias de solidariedade e nucleação com os países de América Latina.
Além disso, para adotar acordos de cooperação técnica - científica, acadêmica e cultural contam com entraves burocráticos difíceis de dar celeridade ao processo de responsabilidade e legitimidade institucional; e, ainda há falta de mecanismos de reciprocidade de condições de manutenção e permanência dos conveniados nos países comprometidos pela cooperação e intercambio. As IES mesmo tendo autonomia universitária passam pelo crivo das Agencias de Controle do Estado em C&T, constatando-se que pouco tem se investido em parcerias ou em projetos de pesquisa na perspectiva comparada e de caráter multicêntrico predominando a pesquisa na opinião pessoal ainda como “ato acadêmico”, embora já se evidencie um tímido movimento, para sua ampliação como instrumento de desenvolvimento pessoal, profissional e societário.
Desse modo, podemos inferir que a internacionalização em educação superior em geral e na enfermagem em especial, no país é desigual para os estudantes, docentes e pesquisadores, todos universitários brasileiros de uma maneira geral e na nossa área em especial não é diferente. Tal como é constatado a distribuição desigual de renda/riqueza e condições sócias demográficas e econômicas nas cinco regiões de país. Contudo, não temos uma agenda internacional para as universidades e para cada programa de enfermagem de acordo com suas realidades e indicadores de internacionalização para avançar de acordo com os requerimentos nacionais e internacionais para tal conquista.
Penso que é necessário que os programas e as universidades devam promover urgentemente uma análise das desigualdades educativas na perspectiva da internacionalização da politica educacional, tal como foi apresentado em Alfenas, pelo Prof. Abdeljalil Akkari, da Universidade de Genebra (Suiça), e responsável pela linha de pesquisa que afirmou ao tratar o tema: “Dimensões Internacionais da Educação”, em palestra, de 07 de fevereiro de 2019, quando enfatizou que a internacionalização não deve fazer parte apenas do discurso institucional e ser uma realidade cotidiana da comunidade universitária que deve utilizar indicadores para definir a politica da internacionalização (...). O prof. Akkari, ainda afirmou, e estou de acordo com ele, que no Brasil existem quatro desafios que precisa enfrentar para a internacionalização: 1º) existência de muitos sistemas universitários e vários tipos de instituição de ensino superior no país, que precisa ao mesmo tempo se internacionalizar...; 2º) Criar estratégias de internacionalização diferentes que atendam a universidade que se tem...; 3º) usar a internacionalização como marketing, em especial as particulares...; 4º) como atrair mais estudantes e docentes internacionais na mesma proporção de brasileiros que desejam ir para o exterior... (AKKARI, 2019).
O pressuposto que nos move neste editorial, aliado a essa reflexões, diz respeito ao contexto de desenvolvimento da enfermagem no Brasil, no campo da pós-graduação strictu-sensu, que é de fundamental transcendência e é marcada por uma significativa expansão nacional caracterizando o desafio de inserção no cenário internacional da ciência e inovação conforme é mostrado por critérios de avaliação e acompanhamento por Agencias Governamentais de acreditação/regulamentação da qualidade de oferta desses cursos (CAPES, 2017). Tendo como base este pressuposto e dada sua magnitude a internacionalização é compreendida como um crescente movimento educacional para consolidar a qualidade da pós-graduação strictu sensu, neste caso em enfermagem dado ao aumento da qualificação dos programas em todo o país, o crescimento da sua produção científica e o reconhecimento da qualificação da publicação em revistas da área e sua tênue más significativa contribuição no processo de internacionalização principalmente na formação e produção cientifica de mestres e doutores estrangeiros.
Os programas de pós-graduação em enfermagem do país, nesta última década do século XXI, marcam a diferença possibilitando parcerias e a criação de redes internacionais com diversos países focalizados em quatro dimensões básicas: no aprimoramento da qualidade da produção acadêmica; na expansão qualitativa de formação de pesquisadores; na mobilidade internacional de doentes e discentes; e, na produção cientifica com impacto na realidade sanitária e social. Atualmente é desafiador na nossa área a outorga e a obtenção do título de doutor em duas instituições (cotutela) ou orientações (co) de mestrado e doutorado e convênios com universidades estrangeiras e organização de eventos internacionais itinerantes.
Em suma, a enfermagem universitária brasileira, criou e fortaleceu condições quantitativas e qualitativas na busca, na opinião pessoal, de uma posição de destaque e adota atualmente uma postura de solidariedade diante do fortalecimento e consolidação da ciência da disciplina e da determinação de uma unidade e identidade no plano das ideias e das ações, dialogicamente construídas na perspectiva da especificidade e da interdisciplinaridade, ampliando assim o campo das relações interpessoais e institucionais para estar consubstanciada na apropriação de uma prática social aplicada a resolução dos problemas que se presentam nas diversidades inerentes ao ensino e a prática profissional na esfera das práticas sociais e sanitárias internacionais.
Por fim, há que prestar atenção ao relatório da Coordenação de Enfermagem da CAPES (2017) onde constam, dentre outras medidas três recomendações que se relacionam diretamente com a internacionalização da pós-graduação em enfermagem no país: diminuir a endogenia por meio do incentivo ao estabelecimento de parcerias institucionais, realização de pós-doutorado em outras instituições; fomentar o desenvolvimento de centros de excelência em ensino e pesquisa de Enfermagem de padrão internacional, para contribuir efetivamente com o desenvolvimento de tecnologias e inovação para o cuidado e gerenciamento de serviços de saúde; e, impulsionar, em conjunto com a OPAS/OMS, a implantação do Plano de Ação para o Avanço da Educação em Enfermagem em Nível de Pós-Graduação na América Latina e Caribe.
Para essa organização são quatro áreas estratégicas e respectivas linhas de ação necessárias ao avanço da Educação em Enfermagem em nível da Pós-Graduação de América Latina e Caribe: 1) Cooperação e internacionalização (Colaboração e alianças técnicas científicas e investigativas e cooperação interna e externa entre os programas/países); 2) Formação acadêmica congruente com os contextos e necessidades de saúde dos países/região (Formação integral de doutores em enfermagem, Fortalecimento do trabalho interdisciplinar nos programas de doutorado; 3) Articular a formação doutoral com a graduação (Formação do enfermeiro em políticas públicas, Qualificação do corpo docente, Flexibilidade dos modelos curriculares; Geração de conhecimento transferível para a prática; Reorientação da investigação em saúde e educação dos países; Fortalecimento do trabalho interdisciplinar na investigação científica, Geração e gestão do conhecimento e tecnologia, Difusão e transferência de conhecimento, Geração de políticas públicas, e Financiamento da investigação e mobilidade de professores e estudantes; e, 4) Sustentabilidade (Governança e governabilidade – sustentabilidade financeira dos programas, liderança, Vinculação dos programas com setores da sociedade, e Infraestrutura dos cursos).
Desse modo, por fim, podemos registrar como principais desafios na pós-graduação em enfermagem no país: ampliar a visibilidade das propostas dos PPGEnf; desconstruir o dilema de ter mais estudantes e menos recursos; criar estratégias de internacionalização que atendam a realidade de cada programa e país conveniado; aproveitar medidas de acordos, convênios e outras medidas de cooperação minimizando os entraves burocráticos internos e externos aos programas; ampliar convocatórias com editais gerais e especiais, facilitando a participação de estudantes estrangeiros, e de pesquisadores em projetos de pesquisa; dentre outros. Estes poderão ser enfrentados com a explicitação de cada programa da vontade político-social de garantia por meio de estratégias definidas em uma agenda e um plano de ação institucionais, na perspectiva da internacionalização da pós-graduação strictu-sensu em Enfermagem.
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