A MIMESE FILOSÓFICA EM PLATÃO: DA TRAGÉDIA AO TEATRO DAS IDEIAS NA REPÚBLICA

Autores/as

  • Francisco Oliveira Freire

DOI:

https://doi.org/10.26694/pensando.v13i29.13252

Palabras clave:

Platão, Mimese, Poesia, Representação, Ideia, Arte.

Resumen

Este artigo pretende delinear a relação entre a mimese e a filosofia platônica a partir da República. A interpretação prevalecente caracteriza a mimese como imitação, denotando algo enganoso, ilusório ou falsificado. Platão alijaria a mimese da cidade ideal, pois ela seria capaz de corromper até os melhores cidadãos. Intérpretes influentes pressupõem a identidade entre o conceito platônico de mimese e a noção moderna e contemporânea de arte. Defende-se nesse artigo que tais interpretações são parciais e desfiguram o conceito platônico de mimese. O teatro teve importância fundamental na gênese e no desenvolvimento da filosofia platônica. A mimese cênica inspirou a concepção platônica do mundo empírico como representação do mundo das ideias. Entre os acadêmicos o termo mimese assumiu um sentido técnico, refere-se à relação entre o fundamento suprassensível – as ideias – e o mundo empírico. A representação mimética é mediação indispensável do modelo inteligível. Pela representação mimética, inscreve-se a ausência do modelo na presença sem abolir a distância ontológica. A crítica platônica visa à conversão da mimese de disseminadora de falsidades mitológicas em poderoso instrumento da verdade e do bem. O filósofo é, por um lado, o usuário da mimese, que determina os critérios de qualidade para a utilidade paidêutica. Por outro lado, o filósofo é o mais excelente mimeta, pois conhece o verdadeiro modelo e o representa em palavras. A República – assim como todo o corpus platonicum – é uma representação mimética. A densidade ontológica, epistemológica, ética, política, religiosa e paidêutica que contextualiza a mimese platônica a distingue completamente do que hoje costumamos classificar como poesia ou arte.

Citas

ANNAS, Julia. An Introduction to Plato's Republic. Oxford: Oxford University Press, 1981.

ASMIS, Elizabeth. “Platão sobre a criatividade poética”. In: Kraut, Richard. Platão. Tradução de Saulo Krieger. São Paulo: Editora ideias & letras, 2021.

GADAMER, Hans-Georg. Dialogue and Dialectic: Eight Hermeneutical Studies on Plato. Traslated: P. Christopher Smith. New Haven: Yale UP, 1980. p. 39-72.

HALLIWELL, Stephen. The Aestetics of Mimesis. Ancient Texts and modern problems. Princeton and Oxford, Princeton University Press, 2002.

HAVELOCK, Eric. Preface to Plato. Cambridge: Harvard University Press, 1963.

HESÍODO, Teogonia. Tradução de José Antônio Alves Torrano. São Paulo: Editora Iluminuras, 1995.

KRISTELLER, Paul Oskar. “The Modern System of the Arts: A Study in the History of Aesthetics Part I”. Journal of the History of Ideas. Vol. 12, N° 4, Oct. 1951, pp. 496-527.

LEFEBVRE, René. “Faut-il traduire le vocable aristotélicien de phantasia par «représentation»?”. Revue philosophique de Louvain, 95 (1997), pp. 587-616.

MARUŠIČ, Jera. “Poets and Mimēsis in the Republic”. In: Destrée, Pierre and Herrmann, Fritz-Gregor (eds.). Plato and the Poets. Leiden: Brill, 2011, p. 217-240.

PLATÃO, A República. Introdução, tradução e notas: Maria Helena da Costa Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

_____. Diálogos I (Apología, Critón, Eutifrón, Ión, Lisis, Cármides, Hipias Menor, Hipias Mayor, Laques, Protágoras). Tradución: J. Calonge, E. Lledó y C. García Gual. Madrid: Gredos, 1981.

_____. Diálogos II (Gorgias, Menéxeno, Eutidemo, Menón, Crátilo). Tradución: J. Calonge, E. Acosta, F. J. Oliveri y J. L. Calvo, Madrid, Gredos, 1987.

_____. Diálogos III (Fedón, Banquete, Fedro). Tradución: C. García Gual, M. Martínez y E. Lledó. Madrid: Gredos, 1992.

_____. Diálogos IV (República). trad. de C. Eggers Lan. Madrid: Gredos, 1992.

_____. Diálogos V (Parménides, Teeteto, Sofista, Político). Tradución: M. I. Santa Cruz, A. Vallejo Campos y N. L. Cordero: Madrid, Gredos, 1992.

_____. Diálogos VI (Filebo, Timeo, Critias). Tradución: M. A. Durán y F. Lisi. Madrid: Gredos, 1992.

_____. Diálogos VIII (Leyes, libros I-VI). Introducción, traducción y notas: Francisco Lisi. Madrid: Gredos, 1999.

RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. Campinas: Papirus, 1994.

STEINER, Deborah. Figures of the Poet in Greek Epic and Lyric. In: In: DESTRÉE, Pierre; MURRAY, Penelope. A companion to ancient Aesthetics. Malden: Wiley Blackwell, 2015, p. 31-46.

VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. Tradução de Haiganuch Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

_____. Figuras, Ídolos, Máscaras. Trad. Telma Costa. Lisboa: Editorial Teorema, 1991.

_____. “Image et apparence dans la théorie platonicienne de la mimesis”. Journal de Psychologie normale et pathologique, nº 2, abril-junio, 1975, pp 133-160.

_____. Entre Mito e Política. Tradução de Cristina Murachco. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 2002.

WOODRUFF, Paul. “Aristotle on Mimesis”. In: DESTRÉE, Pierre; MURRAY, Penelope. A companion to ancient Aesthetics. Malden: Wiley Blackwell, 2015.

Publicado

2023-03-09

Cómo citar

FREIRE, Francisco Oliveira. A MIMESE FILOSÓFICA EM PLATÃO: DA TRAGÉDIA AO TEATRO DAS IDEIAS NA REPÚBLICA. PENSANDO - REVISTA DE FILOSOFIA, [S. l.], v. 13, n. 29, p. 60–73, 2023. DOI: 10.26694/pensando.v13i29.13252. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/pensando/article/view/4040. Acesso em: 22 jul. 2024.

Número

Sección

ARTIGOS/VARIA

Artículos similares

1 2 3 4 5 6 7 8 9 > >> 

También puede {advancedSearchLink} para este artículo.