UM PONTO CEGO NA TEORIA DO JOVEM HABERMAS: A PROBLEMÁTICA RELAÇÃO ENTRE ESFERA PÚBLICA E EMANCIPAÇÃO

Autores

  • Vinícius dos Santos Xavier UFSCar

DOI:

https://doi.org/10.26694/pensando.v6i12.3478

Palavras-chave:

Habermas, Esfera Pública, Esfera Privada, Emancipação, Marx

Resumo

O objetivo deste artigo é apontar alguns problemas na relação entre esfera pública e emancipação na teoria do jovem Habermas. Para tanto, o recurso a dois trabalhos habermasianos da década de 1960 será imprescindível: Mudança estrutural da esfera pública e Trabalho e Interação. No primeiro, o livro Mudança estrutural da esfera pública de 1962, Habermas fundamenta sua teoria pela perspectiva de uma esfera pública normativa, possibilitada pela configuração do período pós-guerra; ao passo que no ensaio Trabalho e Interação de 1967, além de utilizar outra categoria esfera pública, diferente daquela normativa, sua intenção é demonstrar como os indivíduos se formam no âmbito privado de suas existências. Todavia, em ambos, tanto no livro de 1962 quanto no texto de 1967, há uma linearidade acerca da fundamentação teórica: trabalho e interação simbólica são separados no que tange aos desenvolvimentos da humanidade. A emancipação estaria a cargo da interação, enquanto o trabalho somente proviria a subsistência genérica. Isto é decorrente de uma reformulação problemática na teoria marxiana no que tange ao trabalho social e à perspectiva da totalidade. É nesse imbróglio que a pretensão deste artigo se situa: verificar até que ponto o que Habermas compreende por trabalho poderia desbancar, de fato, a teoria de Marx; e, por outro lado, mostrar que a crítica dialética marxiana acerca do trabalho social, caso levada em consideração por Habermas, faria a teoria deste perder a lógica de seus fundamentos, deslocando sua ideia de emancipação para uma aceitação da realidade efetiva vigente.

Referências

ADORNO, T. W.. “Sobre sujeito e objeto”. In: ___. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Trad. Maria Helena Ruschel. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, p. 181-201.

___. “Notas marginais sobre teoria e práxis”. In: ___. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Trad. Maria Helena Ruschel. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995a, p. 202-29.

ANDREWS, C. W. Emancipação e legitimidade: uma introdução à obra de Jürgen Habermas. São Paulo: Editora Unifesp, 2011.

BARBOSA, R. C. Dialética da reconciliação: estudos sobre Habermas e Adorno. Rio de Janeiro: UAPÊ. 1996

BECKENKAMP, J. O jovem Hegel: formação de um sistema pós-kantiano. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

CAMPATO, R. F. A gênese teórica da concepção habermasiana de esfera pública. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos: UFSCar, 2002.

___. Esfera pública burguesa e esfera pública proletária: as perspectivas de Habermas e de Negt e Kluge. Doutorado (Filosofia) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos: UFSCar, 2008.

DOMÈNECH, A. “Prólogo a la edición castellana: el diagnóstico de Jürgen Habermas, veinte años después”. In: HABERMAS, J. Historia y crítica de La opinión pública: la transformación estructural de la vida pública. 2. ed. Trad. Antonio Domènech. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1981, p. 11-35

HABERMAS, J. “Um perfil filosófico-político”. Trad. Wolfgang Leo Maar. In: Novos Estudos Cebrap, v.18, 1987, p.77-102.

___. (1967). “Trabalho e Interação: notas sobre a filosofia do espírito de Hegel em Iena”. In. ___. Técnica e ciência como “ideologia”. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2009, p. 11-43.

___. “Técnica e ciência como ‘ideologia’”. In. ___. Técnica e ciência como “ideologia”. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2009a, p. 45-92.

___. “Progresso técnico e mundo social da vida”. In. ___. Técnica e ciência como “ideologia”. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2009b, p. 93-106.

___. “Política cientificada e opinião pública”. In. ___. Técnica e ciência como “ideologia”. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2009c, p. 107-28.

___. “Conhecimento e interesse”. In. ___. Técnica e ciência como “ideologia”. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2009d, p. 129-47.

___. (1981). Teoria do agir comunicativo, 1: racionalidade da ação e racionalização social. Tradução de Paulo Soethe. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

___. (1981). Teoria do agir comunicativo, 2: sobre a crítica da razão funcionalista. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012a.

___. (1963). Teoria e Práxis: estudos de filosofia social. Tradução e Apresentação: Rúrion Melo. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

___. (1962). Mudança estrutural da esfera pública: investigações sobre uma categoria da sociedade burguesa. Tradução: Denilson Luís Werle. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

___. (1968). Conhecimento e interesse. Tradução Luiz Repa. São Paulo: Editora Unesp, 2014a.

___. A nova obscuridade: pequenos escritos políticos V. Tradução Luiz Repa. São Paulo: Editora Unesp, 2015.

HEGEL, G. W. F. (1804-1806). Filosofia Real. Edição de José María Ripalda. México: Fondo de Cultura Econômica, 1984.

___. (1802-1803). O sistema da vida ética. Tradução de Artur Mourão. Lisboa: Edições 70, 1991.

___. (1806-1807). Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses; com a colaboração de Karl-Heinz Efken e José Nogueira Machado. 5ª ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008.

HONNETH, A. “Work and instrumental action”. In: New German Critique: Critical Theory and Modernity, n. 26, Spring-Summer, 1982, p. 31-54.

___. “Jürgen Habermas: percurso acadêmico e obra”. In: Revista Tempo Brasileiro. Trad. Barbara Freitag. Rio de Janeiro, n. 138, jul.-set., 1999, p. 9-32.

___. “Teoria crítica”. In: GIDDENS, A. e TURNER, J. (orgs.). Teoria social hoje. Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa. São Paulo: Editora UNESP, 1999a, p. 503-52.

HORKHEIMER, M. (1937). “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”. In: Os Pensadores (Coleção). Trad. Edgar Afonso Malagodi e Ronaldo Pereira Cunha. São Paulo: Abril Cultural, 1975, p. 125-62.

___. (1931). “The present situation of social philosophy and the tasks of an Institute for Social Research”. In: Between Philosophy and Social Science: Selected Early Writings. Edited by G. Frederick Hunter, Matthew S. Kramer, and John Torpey. Cambridge/London: MIT Press, 1993.

___. Teoria crítica: uma documentação. Tradução: Hilde Cohn. São Paulo: Perspectiva, 2012.

INGRAM, D. Habermas e a dialética da razão. Tradução de Sérgio Bath. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994.

JAY, M. A imaginação dialética: história da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais, 1923-1950. Trad. Vera Ribeiro; revisão da trad. César Benjamin. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.

LUKÁCS, G. (1938-1948). El Joven Hegel y los problemas de la sociedad capitalista. Tradução Manuel Sacristan. 2ª. Ed. Barcelona-Mexico: Ediciones Grijalbo, 1970.

MAAR, W. L. “A centralidade do trabalho social e seus encantos”. In: A sociologia no horizonte do século XXI. São Paulo: Boitempo Editorial, 1997, p. 60-90.

___. “Habermas e a Questão do Trabalho Social”. In: Lua Nova: Revista de Cultura e Política. São Paulo, n. 48, 1999, p. 33-61.

___. “O ‘primeiro’ Habermas: ‘Trabalho e Interação’ na evolução emancipatória da humanidade”. In: Trans/Form/Ação, São Paulo, n. 23, 2000, p. 69-95.

___. “Habermas, Esfera Pública e Publicidade”. In: BACEGA, M. A. (Org.). Comunicação e Culturas do Consumo. São Paulo: Editora Atlas, 2008, p. 53-64.

___. “Esfera pública como conceito dialético: ilusão e realidade”. In: Problemata: Revista Internacional de Filosofia. v. 03, n. 02, 2012, p. 200-217.

MARX, K. (1844). Manuscritos Econômico-Filosóficos. Tradução, Apresentação e Notas Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2004.

___. (1845) “Teses Sobre Feuerbach”. In: MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Trad. Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.

___. (1861-1863). Para a crítica da economia política: manuscrito de 1861-1863 – Cadernos I a V. Tradução Leonardo de Deus. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

___. (1843). Sobre a questão judaica. Trad. Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2010a.

___. (1857-1858). Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. Tradução de Mario Duayer, Nélio Schneider (colaboração de Alice Helga Werner e Rudiger Hoffman). São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011.

___. (1867). O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.

McCARTHY, T. La teoría crítica de Jürgen Habermas. Trad. Manuel Jimenez Redondo. 4ª Ed., 1ª Reimpr. Madrid: Editorial Tecnos, 2002.

MELO, R. Marx e Habermas: teoria crítica e os sentidos da emancipação. São Paulo: Saraiva, 2013.

NEGT, O. “Formas de decadência da esfera pública burguesa e o problema de uma esfera pública proletária”. In: ___. Dialética e História: crise e renovação do marxismo. Trad. Ernildo Stein. Porto Alegre: Editora Movimento, 1984, p. 31-40.

NEGT, O.; KLUGE, A. “A ideologia de blocos. Esfera pública da classe trabalhadora como sociedade dentro da sociedade”. In: MARCONDES FILHO, C. (Org.). A linguagem da sedução: a conquista das consciências pela fantasia. 2. ed. Tradução de Ciro Marcondes Filho e Plínio Martins Filho. São Paulo: Perspectiva, 1988, p. 129-46.

___. Public sphere and experience: toward an analysis the bourgeois and proletarian public sphere. Trad. Peter Labanyi. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1993.

___. “O trabalhador total, criado pelo capital com força de realidade, mas que é falso”. In: ___. O que há de político na política? Trad. João Azenha Júnior; colaboração Karola Zimber. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999, p. 103-34.

NOBRE, M. A teoria crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

___. “Introdução: modelos de teoria crítica”. In: ___. (org.). Curso livre de Teoria Crítica. 3. ed. Campinas, SP: Papirus, 2013, p. 9-20.

OUTHWAITE, W. Habermas: a critical introduction. California: Stanford University Press, 1994.

PINZANI, A. Habermas. Porto Alegre: Artmed, 2009.

POSTONE, M. Time, labor and social domination: a reinterpretation of Marx’s critical theory. Nova York: Cambridge University Press, 1993.

REPA, L. “Jürgen Habermas e o modelo reconstrutivo de teoria crítica”. In: NOBRE, M. (Org.). Curso livre de Teoria Crítica. 3. ed. Campinas, SP: Papirus, 2013, p. 161-82.

SIEBENEICHLER, F. B. Jürgen Habermas: razão comunicativa e emancipação. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

WIGGERSHAUS, R. A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento teórico, significação política. Trad. do Alemão: Lilyane Deroche-Gurgel; Trad. do Francês: Vera de Azambuja Harvey. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.

Downloads

Publicado

25-04-2016

Como Citar

SANTOS XAVIER, Vinícius dos. UM PONTO CEGO NA TEORIA DO JOVEM HABERMAS: A PROBLEMÁTICA RELAÇÃO ENTRE ESFERA PÚBLICA E EMANCIPAÇÃO. PENSANDO - REVISTA DE FILOSOFIA, [S. l.], v. 6, n. 12, p. 156–187, 2016. DOI: 10.26694/pensando.v6i12.3478. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/pensando/article/view/3299. Acesso em: 22 dez. 2024.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.