PALCO DAS EMOÇÕES: NARRATIVAS JUVENIS SOBRE SOCIABILIDADES E TROCAS CULTURAIS
DOI:
https://doi.org/10.26694/1517-6258.351Keywords:
NARRATIVAS JUVENIS, SOCIABILIDADES, TROCAS CULTURAISAbstract
O “Palco das Emoções” é o espaço no âmbito da Feira UFPI, destinado às apresentações culturais. O objetivo do Palco é proporcionar acesso à cultura no ambiente acadêmico. Desde sua idealização, o Palco foi pensado para evidenciar a participação dos coletivos juvenis, principalmente rurais, na cena popular teresinense.
E é neste signo que recai o objetivo do trabalho que ora se apresenta: relatar as relações da juventude rural e urbana no âmbito da Feira, superando a imagem equivocada de que os jovens que transitam por ela são apenas produtores e consumidores de alimentos saudáveis. Para além desse lugar, os jovens ocupam o Palco com suas narrativas culturais e linguagens diversas, fazendo com que o mesmo possibilite formas de encurtar caminhos de acesso à cultura de forma gratuita por parte da juventude do campo, agricultores que participam da Feira, e todos que frequentam o local.
Para melhor compreensão sobre a importância do Palco dentro da Feira, é preciso assimilar o que é cultura, suas diversas formas, o motivo do rural sofrer estigmas e as dificuldades para os jovens, principalmente rurais, chegarem aos espaços culturais da cidade. David Schneider (2016) define cultura como um sistema de símbolos e significados compreendendo categorias ou unidades sobre formas de comportamento e que o status epistemológico sobre cultura não depende apenas da observação. Cultura como diversidade de modos de vida. Portanto, é necessário que essa diversidade seja respeitada em todos os espaços, sobretudo no educacional, em busca de equidade e para assegurar a representatividade dos grupos sociais em suas diferentes expressões.
Uma educação formal “destina-se a múltiplos sujeitos e tem como objetivo a troca de saberes, a socialização e o confronto do conhecimento, segundo diferentes abordagens, exercidas por diferentes condições físicas, sensoriais[...]” (BRASIL, 2013, p.25). Sujeitos esses originários dos mais distintos territórios: campo ou cidade. Entretanto, a Educação do Campo, é prevista apenas na LDBEN/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) como eixo específico para as populações rurais, por meio de conteúdos e metodologias para atender necessidades e interesses dos alunos da zona rural (LDB, 1996).
Portanto, o jovem rural passa a ser reconhecido como sujeito de direto com identidade marcada pela condição juvenil em sua relação com o campo e, pelos processos históricos esociais. Aqui a juventude é compreendida como uma categoria dinâmica e socialmente produzida. Como afirmam Dayrell&Carrano (2014), a construção histórica do povo rural é marcada pela diversidade cultural, entretanto as condições de acesso a bens econômicos, educacionais e culturais se dão de forma desigual, construindo nesse contexto de transformações, uma lacuna ainda maior entre campo e cidade.
Apenas com essas mudanças previstas na LDBEN e com as diretrizes curriculares nelas embasadas, é possível entender a complexidade da interconexão entre educação x cultura e jovens rurais. No Brasil, a ausência de políticas públicas educacionais que atendessem as especificidades das populações do meio rural levou a desvalorização do mesmo, desqualificando e negligenciando o espaço e o saber fazer do campesino e suas singularidades. A Educação Superior do Campo, materializada nas universidades a partir dos anos de 2013, constitui-se uma possibilidade de atender demandas de movimentos sociais por formulação de educadores para a docência nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio nas escolas rurais. Trata-se de um programa financiado pelo Incra/Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), mas ofertado por uma universidade federal vinculada ao MEC.
Na UFPI-Campus Petrônio Portela o Curso existe desde 2014 e se apresenta como uma possibilidade de expansão da educação superior do campo, visando contribuir para minimizar as desigualdades educacionais e sociais entre as áreas urbanas e rurais. Além disso: “[...] promover a formação de professores multidisciplinares, com base na Pedagogia da Alternância, para a docência nos ciclos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio para a Educação no campo. A viabilização de formação superior específica para participantes dos movimentos camponeses tem como pretensão promover a expansão da oferta da Educação Básica nas comunidades rurais; o atendimento à demanda apresentada no campo, local em que há carência de professores qualificados para o ensino das Ciências da Natureza; além do auxílio à superação das desvantagens educacionais, observando os princípios de igualdade e gratuidade quanto às condições de acesso.” (Projeto Pedagógico, 2013, p. 6)
Nesse contexto, a presença de jovens rurais nos espaços da UFPI alimenta o fazer educacional, impulsiona o debate em torno das diferentes realidades campo x cidade, e gera possibilidades para que esses jovens se tornem agentes do processo de reconhecimento da importância do rural na UFPI e no mundo.
As reflexões aqui empreendidas têm a UFPI e em especial o Palco das Emoções, como lugar em que jovens da Licenciatura em Educação do Campo, são agentes de suas culturas. É neste ponto que o Palco das Emoções se tornou um espaço necessário, ao consistir num local no qual jovens de todas as origens, gênero, idades e diversidade cultural podem apresentar suas habilidades e talentos trocando saberes com todos que frequentam a Feira UFPI.
References
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