Igual eu faço na minha casa, cheia de carne, cheia de calabresa: uma análise da feijoada de Ògún
DOI:
https://doi.org/10.26694/rer.v7i2.6546Palavras-chave:
Candomblé; Comida de Ògun; Feijoada; Feijoada de Ògún.Resumo
A cozinha de um povo, quando analisada em sentido mais profundo, reúne inúmeras visões de mundo perpetuadas e transcritas em seus hábitos alimentares. O ato de comer e a própria comida em si, além da comensalidade e da cultura, são elementos que não podem ser entendidos apenas a partir de um olhar, mas de uma visão inter e transdisciplinar. O presente artigo busca apresentar leituras da tradicional Feijoada de Ògún, a partir de representações nas comunidades-terreiro de candomblé da cidade de Salvador e da Região Metropolitana. Através da observação in loco, busca-se identificar dentro da ritualística de religiões de matriz africana os elementos que transformam uma comida caseira em um evento com grandes possibilidades de saberes e fazeres. A feijoada, mais do que uma comida de santo que se come – e que tem resistido aos tempos, ainda que sofrendo diversas modificações com supressões e acréscimos de alguns elementos –, é uma comida que caiu no gosto popular e uma preparação popular que caiu no gosto de Ògún.
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