Igual eu faço na minha casa, cheia de carne, cheia de calabresa: uma análise da feijoada de Ògún

Autores

  • Douglas Sacramento Estudos Étnicos e Africano pelo Pós-Afro/UFBA https://orcid.org/0000-0003-2211-2401
  • Sisnando Souza Pacheco Programa de Pós-Graduação em Alimentos Nutrição e Saúde/UFBA

DOI:

https://doi.org/10.26694/rer.v7i2.6546

Palavras-chave:

Candomblé; Comida de Ògun; Feijoada; Feijoada de Ògún.

Resumo

A cozinha de um povo, quando analisada em sentido mais profundo, reúne inúmeras visões de mundo perpetuadas e transcritas em seus hábitos alimentares. O ato de comer e a própria comida em si, além da comensalidade e da cultura, são elementos que não podem ser entendidos apenas a partir de um olhar, mas de uma visão inter e transdisciplinar. O presente artigo busca apresentar leituras da tradicional Feijoada de Ògún, a partir de representações nas comunidades-terreiro de candomblé da cidade de Salvador e da Região Metropolitana. Através da observação in loco, busca-se identificar dentro da ritualística de religiões de matriz africana os elementos que transformam uma comida caseira em um evento com grandes possibilidades de saberes e fazeres. A feijoada, mais do que uma comida de santo que se come – e que tem resistido aos tempos, ainda que sofrendo diversas modificações com supressões e acréscimos de alguns elementos –, é uma comida que caiu no gosto popular e uma preparação popular que caiu no gosto de Ògún.

Biografia do Autor

Douglas Sacramento, Estudos Étnicos e Africano pelo Pós-Afro/UFBA

Doutorando em Estudos Étnicos e Africanos pelo Pós-Afro/UFBA. Bolsista CAPES. Mestre em Literatura e Cultura pelo PPGLitCult/UFBA. Licenciado e Bacharel em Língua Estrangeira Moderna Inglês pela UFBA. Licenciado em Letras Vernáculas pela Claretiano. Fui professor substituto do Instituto de Letras da UFBA, na área de Literatura Brasileira (2022.2-2023.1). Sou performer e atuei junto ao Coletivo Pixote, liderado pela Prof. Dra. Carla Dameane, na UFBA; posteriormente, com o fim do coletivo, fiz outras performances com a mesma professora. Como artista solo, fui selecionado no XI Salão da Escola de Belas Artes e uma fotoperformance de minha autoria ficou exposta na Pinacoteca do Beiru, em Salvador-BA, entre os dias 16 de novembro de 2024 e 13 de dezembro de 2024. Sou escritor e minha dissertação foi publicada como livro pela editora Margem da Palavra, em 2024, sob o título de Os fios da morte nos tecidos da memória: um estudo comparativo sobre Amada, de Toni Morrison, e Becos da Memória, de Conceição Evaristo. Para além disso, como poeta, tenho poemas publicados nas antologias A máquina do mundo, pela AMC Eventos, em 2023; Antologia Primavera, Vol. 2, pela Vila Rica Editora (no prelo); e fui aprovado para publicação na antologia poética da Forjando Escritores Editora (no prelo). Para além disso, pesquiso outras temáticas vinculadas a morte na literatura negra e não-negra, como: pós-morte, questões de perda e luto, corpo ausente e presente, erotismo e morte, representação de ritos fúnebres e relação da morte com temática religiosa de matriz africana. 

Sisnando Souza Pacheco, Programa de Pós-Graduação em Alimentos Nutrição e Saúde/UFBA

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Alimentos Nutrição e Saúde/UFBA

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Publicado

2025-07-30

Como Citar

SACRAMENTO, Douglas; SOUZA PACHECO, Sisnando. Igual eu faço na minha casa, cheia de carne, cheia de calabresa: uma análise da feijoada de Ògún. Revista EntreRios do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, [S. l.], v. 7, n. 2, p. 73–90, 2025. DOI: 10.26694/rer.v7i2.6546. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/entrerios/article/view/6546. Acesso em: 5 dez. 2025.