Em nossas próprias armadilhas: “artefatos” antropológicos em contexto

Autores

  • Diógenes Egidio Cariaga Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul

DOI:

https://doi.org/10.26694/rer.v2i1.9275

Palavras-chave:

Laudos periciais, regimes de conhecimentos, cosmopolítica

Resumo

A reflexão a ser apresentada pretende deslocar a leitura para questões que envolvem o modo como os regimes de conhecimento e as técnicas de produção da Antropologia são objetificadas em cenários de disputa judicial, que envolvem muitos pontos de vista sobre o conjunto das diferenças nos modos e sentidos de habitar e existir.  O que pretendo demonstrar passa por refletir sobre o que está em jogo quando a Antropologia e o antropólogo são mobilizados como “conhecedores-técnicos” sobre o direito às diferenças, garantidos pelo Estado Brasileiro aos índios.Não irei me ater às questões processuais, executivas e burocráticas do andamento das ações, mas trazer algumas considerações sobre como a produção destes documentos agenciam diferentes perspectivas sobre o fazer antropológico e quais relações emergem na condução destas tarefas e os efeitos etnográficos acerca da autoria e ética.Deste modo, as contribuições de Annelise Riles, Alfred Gell, Roy Wagner e Marilyn Strathern conduzem para algumas reflexões sobre os efeitos transformadores e extensivos dos conceitos em disputa que estes processos criam no modo de escrever tais documentos/textos, em que os conhecimentos antropológicos e etnográficos dos antropólogos são mobilizados a partir de uma noção “técnica”, para dar relevo a contextos onde a Antropologia é vista como um “saber-técnico-científico”.

Referências

ALMEIDA, Mauro. “Relativismo Antropológico e Objetividade Etnográfica – Conferência”. Campos, nº 3, 2003.

ALMEIDA, Mauro. “Caipora e outros conflitos ontológicos”. R@U – Revista de Antropologia da UFSCar. Vol. 5, ano 1, 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA. Protocolo de Brasília: laudos antropológicos – condições para o exercício de um trabalho científico. Rio de Janeiro: ABA, 2015.

BOAVENTURA LEITE, Ilka (org). Laudos e Periciais Antropológicas em Debate. Florianópolis: Nova Letra Gráfica e Editora, 2005.

CALAVIA SÁEZ, Oscar. Esse obscuro objeto da pesquisa: um manual de método, técnicas e teses em Antropologia. Ilha de Santa Catarina: Edição do Autor, 2013a.

CALAVIA SÁEZ, Oscar. “A Ética da Pesquisa na Era da Autoria. Direito intelectual indígena, socialidade e invenção”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 28, nº 83, 2013b: 73 – 84.

CARIAGA, Diógens E. Relações e Diferenças: ação política kaiowá e suas partes. Tese de Doutorado. PPGAS, Universidade Federal de Santa Catarina, 2019.

CARIAGA, Diógens. “Considerações sobre a territorialidade e as transformações entre os Kaiowá e Guarani em Te’ýikue, Caarapó – MS”. In: SILVEIRA, N. H; MELO, C. R.; JESUS, S. C. (org.). Diálogos com os Guarani: articulando compreensões antropológicas e indígenas. Florianópolis: Editora UFSC, 2016: 79 – 99.

CARIAGA, Diógens. As transformações no modo de ser criança entre os Kaiowá em Te’ýikue, Caarapó – MS (1950 – 2010). Dissertação de Mestrado. PPGH (História Indígena), Universidade Federal da Grande Dourados, 2012.

CARNEIRO DA CUNHA, M. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

CRESPE, Aline Castilho. Mobilidade e temporalidade kaiowá: do tekoha à reserva, do tekoharã ao tekoha. Tese de Doutorado. PPGH (História Indígena), Universidade Federal da Grande Dourados, 2015.

DE LA CADENA, Marisol. “Política Indígena: un análisis más de ‘la política’”. World Anthropologies Network (WAN) – Red de Antropologias Del Mundo (RAM) – electronicjournal, 2009.

FLEURY, Lorena e ALMEIDA, Jalcione. “A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: Conflito Ambiental e o Dilema do Desenvolvimento”. Ambiente e Sociedade. São Paulo, v. XVI, N. 4, out/dez, 2013.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1984.

GROSSI, Miriam P.; LINS RIBEIRO, Gustavo. “Apresentação”. In: Laudos e Periciais Antropológicas em Debate. Florianópolis: Nova Letra Gráfica e Editora, 2005.

GELL, Alfred. “A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia”. Concinnitas. Ano 6, Vol. 1, Nº 08, Julho, 2005.

GELL, Alfred. “A rede de Vogel. Armadilhas como obras de arte e obras de arte como armadilhas” (Tradução). Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Rio de Janeiro: Escola de Belas Artes da UFRJ, ano 8, n. 8, 2001: 174-191.

HOOLBRAD, Martin; PEDERSEN, Morten A.; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “The Politics of Ontology: An Anthropological Propositions”. Fieldsights – Theorizing the Contemporany, Cultural Anthropology – Online. January 13, 2015. http://www.culanth.org/fieldsights/461-the-politics-of-ontology

INGOLD, Tim. “Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais”. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, vol. 18, n. 37, 2012.

LATOUR, Bruno. “El cosmos de quién? Que cosmopolítica?: Comentarios sobre lós términos de paz de Ülrich Beck”. Revista Pléyades, n. 14, 2014.

LATOUR, Bruno. Reagregando o social. Uma introdução a teoria ator-rede. Salvador/Bauru: EDUFBA/EDUSC, 2012.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. 4ª ed. São Paulo: Editora Moderna, 2009.

MACEDO, Valéria. Vetores porã e vaí na cosmopolítica Guarani. Tellus, ano 11, n. 21, 2011: 25 -52.

MORAWSKA VIANA, Catarina. “A Trilha de Papéis da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: tecnologias de cálculo e obliteração da perspectiva dos povos impactados”. Anthropológicas. Ano 18, 25 (2), 2014.

PACHECO DE OLIVEIRA, J., MURA, F. e BARBOSA DA SILVA, A. Laudos Antropológicos em Perspectiva. Brasília: ABA Publicações, 2015.

PEREIRA, Levi M. “Expropriações dos territórios kaiowá e guarani: implicações nos processos de reprodução social e sentidos atribuídos as ações para reaver territórios – tekoharã”. Revista de Antropologia da UFSCar, volume 4, número, 2, jul-dez, 2012.

PIMENTEL, Spensy K. “Cosmopolítica kaiowá e guarani: uma crítica ameríndia ao agronegócio”. R@u, 4 (2), 2012a: 134 – 150.

PIMENTEL, Spensy K. Elementos para uma teoria política kaiowá e guarani. Tese de Doutorado. PPGAS, Universidade de São Paulo, 2012b.

RILES, Annelise. “Introduction: In response”. Documents: Arctifacts of Modern Knowledge. In: RILES, Annelise (ed.). Michigan, Ann Arbor: The University Press of Michigan, 2006.

SILVA, Gláucia (org.) Antropologia extramuros. Novas responsabilidades sociais e políticas dos antropólogos. Brasília: Editora Paralelo 15, 2008.

SOUZA LIMA, Antônio C. e BARRETO FILHO, Henyo T. (orgs). Antropologia e identificação: os antropólogos e a definição de terras indígenas no Brasil, 1977-2002. Rio de Janeiro: Editora Contra Capa, 2005.

STENGERS, Isabelle. La propuesta cosmopolítica. Revista Pléyades, n. 14, 2014.

STRATHERN. Marilyn. “A pessoa como um todo e seus artefatos”. In: O efeito etnográfico, São Paulo, Cosac &Naify, 2014a.

STRATHERN. Marilyn. “Cortando a rede”. In: O efeito etnográfico. São Paulo: Cosac &Naify, 2014b.

STRATHERN. Marilyn. “On dept and space”. In: LAW, John; MOL, AnneMarie (Ed). Complexities: Social Studies of Knowledge Practices. Durham and London: Duke University Press, 2002.

STRATHERN. Marilyn. “Sharing, Stealingand Borrowing, Simustaneously”. In: BUSSE, Mark; STRANG, Veronica (ed.). Ownership and Appropriation. Oxford and New York: Berg Publishers, 2011.

VIDAL, Lux B. “Há Antropologia nos Laudos Antropológicos?”. In: SILVA, Orlando S.; LUZ, Lídia; HELM, Maria V. A perícia antropológica em laudos judiciais. Florianópolis: Editora UFSC, 1994.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectival Anthropology and the Method of Controlled Equivocation”. Tipiti: Journal of the Society of Lawlands South America. N. 2, vol.1, 2004.

WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

Downloads

Publicado

2020-04-28

Como Citar

EGIDIO CARIAGA, Diógenes. Em nossas próprias armadilhas: “artefatos” antropológicos em contexto. Revista EntreRios do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, [S. l.], v. 2, n. 1, p. 10–23, 2020. DOI: 10.26694/rer.v2i1.9275. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/entrerios/article/view/5232. Acesso em: 22 jul. 2024.

Artigos Semelhantes

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.