Duas mulheres educadas no oitocentos: registros em egodocumentos femininos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26694/caedu.v2i2.10997

Palavras-chave:

Egodocumentos, Arquivos femininos, Escritas pessoais, Cartas e Diários, Brasil Império

Resumo

A partir da análise dos arquivos pessoais e egodocumentos elaborados por duas mulheres que viveram no Brasil, no século XIX, o objetivo central do presente trabalho é evidenciar o que essas fontes podem nos dizer sobre a vida dessas mesmas mulheres, em um contexto patriarcal, escravocrata e que reservava a elas um papel social limitado, além de submetido a constante vigilância. Os procedimentos metodológicos tratam de uma pesquisa qualitativa, utilizando como fontes de investigação diferentes categorias documentais, sobretudo, o inventário de cartas e diários que guardam marcas da história dessas mulheres e o posterior exame detalhado desses registros. Conclui-se que, apesar de egodocumentos, sob a forma, especialmente, de diários, serem raros em nosso país, contribuindo para o silenciamento feminino, ainda é possível localizar alguns como os objetos de nossa investigação, que permitem perpetuar a memória de mulheres há muito esquecidas, demonstrando o seu cotidiano envolto a preocupações relativas às funções femininas de gestoras da casa, esposas e mães. Como demonstram os registros estudados, a educação recebida visava, especialmente, a preparação para o casamento, para gerir a casa e cuidar dos filhos. Igualmente, a proximidade com as elites imperiais exigia o domínio dos padrões comportamentais franceses, particularmente, para quem frequentava a Corte brasileira, situada na cidade do Rio de Janeiro, e para quem convivia com os membros da realeza. 

Referências

Albuquerque, S. B. de M. Nas memórias de Aurélia: cotidiano feminino no Rio de Janeiro do século XIX. São Cristóvão: Editora UFS, 2015.

Blas, V. S. Aprender a escribir cartas. Los manuales epistolares en la España contemporánea (1927-1945). Gijón (Asturias): Ediciones Trea, 2003.

Bollmann, S. Las mujeres que leen son peligrosas. Madrid-ES: Maeva Ediciones, 2011a.

Bollmann, S. Las mujeres que escriben también son peligrosas. Madrid-ES: Maeva Ediciones, 2011b.

Burke, P. A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.

Castro, M. W. de. No tempo dos barões: histórias do apogeu e decadência de uma família fluminense no ciclo do café. Rio de Janeiro: Bem-te-vi, 2004.

Cerqueira, C. D. Pedro II e a Condessa de Barral não foram amantes. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1963.

Cunha, M. T. S. Diários íntimos de professoras: letras que duram. In: Mignot, A. C. V.; Bastos, M. H. C.; Cunha, M. T. S. Refúgios do eu. Educação, história, escrita autobiográfica. Florianópolis: Mulheres, 2000, pp. 159-180.

Del Priore, M. Condessa de Barral. A paixão do Imperador. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

Diário de Lembranças da Viscondessa de Arcozelo. Museu Imperial de Petrópolis. Cód. DMI-15, 1887.

Digneffe, F. Do individual ao social: a abordagem biográfica. In: Albarello, L. et al. Práticas e métodos de investigação em ciências sociais. Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 203-245.

Eco, H. A vertigem das listas. Rio de Janeiro: Record, 2010.

Freyre, G. Casa-grande & senzala. 32 ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.

Fulbrook, M. & Rublack, U. In Relation: The ‘Social Self’ and Ego-Documents. German History, vol. 28, n. 3, set., 2010, pp. 263-272.

Gómez, A. C. Aquí lo hallarán con toda verdad. Diarios personales en la España del Siglo de Oro. In: Vasconcelos, M. C. C.; Cordeiro, V. M. R.; Vicentini, P. P. (org.). (Auto) biografia, literatura e história. Curitiba: CRV, 2014.

Henrique, M. C. Um toque de voyeurismo. O diário de Couto de Magalhães (1880 - 1887). Rio de Janeiro: EdUerj, 2009.

Heymann, L. Q. O lugar do arquivo: a construção do legado de Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: FGV, Faperj, 2012.

Hilsdorf, M. L. S. Escola: fontes para a presença feminina na educação. São Paulo (século XIX): inventário, São Paulo: Centro de Memória da Educação – FEUSP e Plêiade, 1999.

Lejeune, P. Diários de garotas francesas no século XIX: constituição e transgressão de um gênero literário. Cadernos Pagu, n. 8/9, 1997, pp. 99-114.

Magalhães Junior, R. D. Pedro II e a Condessa de Barral. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S/A,1956.

Muniz, C. M. L. A riqueza fugaz: trajetórias e estratégias de famílias de proprietários de terras de Vassouras, 1820-1890. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005.

Perrot, M. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, SP: EDUSC, 2005.

Pinho, W. Salões e damas do Segundo Reinado. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1959.

Rocha, S. R. M. Construção e análise do inventário patrimônio religioso paraibano: informação como representação social. Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.

Samara, E. M.; Tupy, I. S. S. T. História & Documento e metodologia de pesquisa. São Paulo: Autêntica, 2010.

Schulze, W. Ego-Dokumente: Annäherung an den Menschen in der Geschichte. Berlin: Akademie Verlag GmbH, 1996.

Vasconcelos, M. C. C. A casa e seus mestres: a educação no Brasil de oitocentos, Rio de Janeiro: Gryphus, 2005.

Vasconcelos, M. C. C. A escrita cotidiana no diário de lembranças da viscondessa de Arcozelo: fragmentos (auto)biográficos de um egodocumento. In: Vasconcelos, M. C. C.; Cordeiro, V. M. R.; Vicentini, P. P. (org.). (Auto) biografia, literatura e história. Curitiba: CRV, 2014, pp. 95-114.

Vasconcelos, M. C. C.; Francisco, A. C. M. Em busca de uma preceptora para a nobreza brasileira: a condessa e o imperador. In: Silva, A. L.; Monti, E. M. G. (org.). Escritas (auto)biográficas e histórias da educação. Curitiba: CVR, 2014, pp. 11-32.

Downloads

Publicado

2020-08-08

Como Citar

CHAVES VASCONCELOS, Maria Celi; LOPEZ M. FRANCISCO, Ana Cristina B. Duas mulheres educadas no oitocentos: registros em egodocumentos femininos. CAMINHOS DA EDUCAÇÃO diálogos culturas e diversidades, [S. l.], v. 2, n. 2, p. 109–123, 2020. DOI: 10.26694/caedu.v2i2.10997. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/cedsd/article/view/2413. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

ARTIGOS