FRAGILIDADE DAS IDENTIDADES

Autores

  • Noeli Dutra Rossatto UFSM

DOI:

https://doi.org/10.26694/pensando.v12i26.12650

Palavras-chave:

Paul Ricoeur, Identidades, Memória, Reconhecimento, Redistribuição

Resumo

O texto examina o tema da fragilidade das identidades em Paul Ricoeur. Nossa hipótese é que o mesmo quadro analítico utilizado no tratamento das aporias da identidade temporal, que se resolvem em termos narrativos, será aplicado no diagnóstico e no tratamento das fragilidades das identidades pessoal e coletiva. Trata-se do quadro construído com base no pressuposto de que o poder da narrativa reside na articulação dialética entre a mesmidade e a ipseidade, o que e o quem, o caráter e a promessa. A primeira tarefa consiste em saber se os desvios das variações imaginativas, que resultam da distorção ou paralização dessa dialética de base, são os mesmos apontados nas fragilidades da memória. A segunda tarefa consiste em mostrar que as fragilidades das identidades, em especial a compulsão à repetição e a melancolia, estão caracterizadas com base na sobreposição de um desses polos ao outro. Entendemos que Ricoeur, nesse ponto, avança em relação à solução freudiana, na medida em que retoma o lado positivo da melancolia, propondo a terapia do trabalho da memória; não obstante, pretendemos dar um passo mais no sentido de complementar essa terapia pela meditação, que se orienta pela memória espacial. Por fim, examinamos a tese de que as lutas por reconhecimento das identidades deixaram de lado as reivindicações por redistribuição econômica. Concluímos que a luta por reconhecimento tem de ser limitada e corrigida naquilo que desencadeia a deposição e a morte do outro; e que, além disso, o reconhecimento pautado pela bondade e pelo dom tem de levar a uma justa distribuição econômica e aos estados de paz.

 

Referências

ABEL, Olivier; PORRÉE, Jérôme. Le vocabulaire de Paul Ricoeur. Paris: Ellipses, 2007.

AGOSTINHO. Confissões. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

ARALDI, Etiane. A melancolia e A náusea de Jean-Paul Sartre. Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on line, VII, 2, 2007.

BENJAMIN, Walter. Origem do barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.

CARRUTHERS, Mary. A técnica do pensamento. Meditação, retórica e a construção de imagens (400-1200). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2008.

CARRUTHERS, Mary. The Book of Memory. A study of memory in Medieval Culture. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. “Os impedimentos da memória.” In: Estudos Avançados. São Paulo: v. 34, n. 98, 2020, pp. 201-217.

GENTIL, Hélio Salles. Para uma poética da modernidade. Uma aproximação à arte do romance em Temps et récit de Paul Ricoeur. São Paulo: Loyola, 2004.

HERNAN VAZQUEZ, Santiago. “La palabra como instancia terapéutica de la acedia en Evagrio Póntico. La palabra frente al logismós da incuria”. In: Patristica et Mediaevalia. Buenos Aires: v. 41, n. 1, 2020, pp. 41-53.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento - A gramática moral dos conflitos sociais (Kampf um Anerkennung, 1992). Tradução de Luis Repa. São Paulo: Editora 34, 2003.

LOUTE, Alain. Identité narrative et resistence: le travail de la mise en intrigue. In: Studia Phaenomenologica. Bucareste: v. 10, 2010, pp. 221-234.

RICOEUR, Paul. “Le problème du fondement de la morale”. In: Sapienza. Rivista internazionale di Filosofia e di Teologia. Bologna: Anno XXVIII, Luglio-Settembre, 1975, pp. 313-337.

RICOEUR, Paul. A l’école de la phénoménologie. Paris: Vrin, 2004.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa III. Campinas: Papirus, 1997.

RICOEUR, Paul. Escritos e conferências 3. Antropologia filosófica. Textos reunidos, estabelecidos, anotados e apresentados por Johann Michel e Jérôme Porée. Tradução de Lara Christina de Malimpensa. São Paulo: Loyola, 2016.

RICOEUR, Paul. Fragile identité: respect de l´autre et identité culturelle. In: Les droits de la personne en question – Europe – Europa. Paris: FIACAT, 2000.

RICOEUR, Paul. La lutte pour la reconnaissance et l’économie du don. Paris: Unesco, 2004.

RICOEUR, Paul. La memoria, la historia, el olvido. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 2004.

RICOEUR, Paul. Percurso do reconhecimento. São Paulo: Loyola, 2006.

RICOEUR, Paul. Soi-même comme un autre. Paris: Seuil, 1990.

RICOEUR, Paul. Temps et Récit III: le temps raconté. Paris: Seuil, 1985.

ROSSATTO, Noeli Dutra. “O respeito ao outro na ética de Paul Ricoeur”. In: Dissertatio. Pelotas: Volume Suplementar n. 8, 2018, pp. 125-139.

SARTRE, Jean-Paul. La nausée. Paris: Gallimard, 2007.

TUGENDHAT, Ernst. Egocentricidade e mística: um estudo antropológico. São Paulo: Martins Fontes/ WMF, 2013.

YATES, Francis. El arte de la memoria (The Art of Memory, 1966). Madrid: Siruela, 2005.

Downloads

Publicado

01-09-2021

Como Citar

ROSSATTO, Noeli Dutra. FRAGILIDADE DAS IDENTIDADES . PENSANDO - REVISTA DE FILOSOFIA, [S. l.], v. 12, n. 26, p. 83–98, 2021. DOI: 10.26694/pensando.v12i26.12650. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/pensando/article/view/3553. Acesso em: 22 dez. 2024.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.