BANDAS DE MÚSICA: EDUCAÇÃO, CULTURA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
DOI:
https://doi.org/10.26694/caedu.v6i2.6214Palavras-chave:
Bandas de Música, Educação, Cultura, Diversidade, Diversidade em músicaResumo
Como pesquisadores do universo das bandas de música e de estudos abrangendo a educação musical, compreendemos que a relevância deste dossiê se estende na habilidade de compreender a realidade das bandas brasileiras e como o ensino e o aprendizado da música impacta o processo educativo de seus personagens. Através de pesquisas abrangendo olhares distintos sobre a educação musical nesses grupos e como tais processos se articulam e se interconectam, este dossiê propõe um diálogo reflexivo sobre como a educação musical impacta a sociedade; as investigações e análises aqui reunidas objetivam colaborar de forma expressiva para a construção de práticas pedagógicas inovadoras com capacidade de inclusão e de reconhecimento da diversidade cultural tão necessárias para a educação musical no Brasil.
O primeiro artigo, “Mulheres regentes em bandas de música: desafios e possibilidades no contexto de Santa Catarina”, escrito por Bianca Guerra Bioni e Regina Finck Schambeck, discute os desafios e possibilidades de atuação de cinco mulheres regentes atuantes em bandas de música no estado de Santa Catarina. O trabalho trata da representação da mulher na regência de banda, assim como traz questões de gênero, feminismo musicológico e associação da presença feminina na área pedagógica. O texto ainda evidencia, através de entrevistas, o papel que a banda de música representa para mulheres regentes e as relações que se estabelecem entre os músicos e a comunidade. As autoras observaram a necessidade na elaboração de estratégias de superação de dificuldades e do preconceito ainda existente para a mulher regente e da demanda por redes de apoio e cursos de formação continuada.
O segundo artigo, “Ensino Coletivo na banda de música da Universidade Federal de Roraima: Projeto BAMUF”, de Fernando Vieira da Cruz e Natália Carvalho do Nascimento, apresenta uma exposição do surgimento da Bamuf e sua consolidação como Projeto de Extensão. O texto expõe estratégias pedagógicas adotadas em disciplinas de ensino coletivo de instrumentos de sopro realizadas entre os anos de 2022 e 2024 no curso de música. Constatou-se que para além do desenvolvimento musical, o senso de pertencimento, a atitude de performance musical solidária e o desenvolvimento humano são elementos compartilhados entre os participantes. Como a prática de banda (ensino e aprendizagem) excede segmentos metodológicos, o texto deixa a sugestão sobre como se reinventar a cada dia e, como a cada aula, ensaio e apresentação surgem novos conhecimentos, desafios e possibilidades na resolução de dificuldades.
O terceiro artigo, “A Banda passa e a dúvida fica: professor ou instrutor?” escrito por Aurélio Nogueira de Sousa e Mairy Aparecida Pereira Soares Ribeiro, é uma análise sociológica acerca das transformações no sistema educacional brasileiro diante da crise econômica e da ascensão do pensamento neoliberal na sociedade. O texto expõe através de pesquisa bibliográfica e abordagem qualitativa um questionamento sobre como a educação está sendo moldada pelos governos e como os termos “professor” e “instrutor” se encaixam e se complementam nesse contexto. A pesquisa ainda problematiza como a redução do papel do Estado e a promoção da competitividade (elementos do neoliberalismo) influenciam a educação musical; os autores inferem que embora os instrutores possuam papel relevante na ausência de professores especializados, há implicações significativas para a qualidade da educação musical.
O quarto artigo, “Bandas de Música e seus baluartes: histórias e memórias de Roberto Raiol, um personagem da cultura de bandas de música interiorana do Brasil”, por Cleyson Rodrigues Ataide, traz uma reflexão a respeito de personagens (assim denominados Baluartes da Cultura) que dedicaram suas vidas a atividades em bandas de música e, especificamente no Clube Musical União Vigiense. Através de estudo bibliográfico, entrevistas e pesquisa de campo, o trabalho se transfigura como etnográfico, pois mostra como o ambiente das bandas é marcado por práticas culturais que remontam à tradição e vivências compartilhadas.
O quinto artigo, “A Banda de Música: práticas pedagógicas e avaliação”, escrito por Luiz Francisco de Paula Ipolito e Taís Helena Palhares, apresenta questões acerca do ensino e avaliação no âmbito das práticas coletivas de banda. O texto expõe questionamentos e reflexões principalmente sobre o movimento educacional nas bandas (ensino e aprendizado conservatorial e coletivo) e como tais procedimentos têm gerado uma mudança na visão das práticas pedagógicas e seus métodos avaliativos. Com apoio freiriano, os autores indagam o quão coerente e contemporâneo o pensamento pedagógico pode se inserir nesses núcleos e o quão transformador e libertador esses ensinos e aprendizados podem se mostrar.
Com uma abordagem diversificada e abrangente das mais variadas áreas de estudos sobre bandas, a coletânea de trabalhos aqui exposta é um subsídio pujante para músicos, estudantes, pesquisadores e professores; os resultados e análises decorrentes estão imbuídos de incitação à reflexão e à transformação dos espaços de atuação nesses grupos. É dessa forma que experiências educacionais em ambientes inclusivos se tornam transformadoras e relevantes para a vida moderna. Cada autor dedicou-se a história de sua banda, aos repertórios, às práticas, às performances e às formas de ensino e aprendizado, além de outras variadas temáticas sobre esse universo tão vasto no Brasil.
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