POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA: DA MONOLOGIA INSTITUCIONAL À EPISTEMOLOGIA POLIFÓNICA

(Portugal)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26694/caedu.v7i3.7848

Palavras-chave:

Políticas públicas para a infância, Epistemologia polifónica, Participação infantil, Justiça epistémica, Sociologia da Infância

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre as políticas públicas para a infância em contextos lusófonos, tomando como referência os casos de Portugal e do Brasil, a partir do conceito de epistemologia polifónica. Sustenta-se que, apesar dos avanços normativos no campo dos direitos da criança, prevalece uma matriz institucional monológica, marcada por lógicas adultocêntricas, tecnocráticas e tuteladoras, que limitam o reconhecimento das crianças enquanto sujeitos políticos e autoras sociais competentes. Inspirada no conceito de polifonia, na articulação com a Sociologia da Infânca e as Epistemologias do Sul, a epistemologia polifónica é apresentada como um quadro teórico-ético que integra três dimensões fundamentais: o direito à cultura, o direito à autonomia e o direito ao reconhecimento. A análise evidencia a necessidade de reconfigurar os paradigmas de governação, promovendo políticas públicas baseadas na escuta, na coautoria e na justiça epistémica. Defende-se, assim, uma transformação das práticas políticas e investigativas, através de abordagens participativas que inscrevam as crianças no centro dos processos de decisão, contribuindo para uma democracia mais plural, dialógica e inclusiva.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Dhemy de Brito, Universidade do Minho – Instituto de Educação

Professor Auxiliar Convidado no Instituto de Educação, no departamento de Ciências Sociais da Educação, da Universidade do Minho, Portugal. Doutor em Estudos da Criança, na especialidade de Infância, Cultura e Sociedade, pela Universidade do Minho (Portugal). Mestre em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina, fez Bacharelado em Canto pela Universidade Estadual de Maringá. É membro do Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC) e do Mei - grupo de pesquisa em música, educação e infância, vinculado ao PPGMUS/UDESC. Em 2020 lançou o livro "O Coro Infantil e as crianças: por que e para quem elas cantam", Pela Paco Editorial. Além disso, como palestrante e investigador tem desenvolvido estudos e oficinas sobre o conceito de Polifonia e o direito de voz das crianças, o qual materializa a construção de políticas promotoras do direito à cultura, à autonomia e ao reconhecimento das vozes infantis.

Referências

ABEBE, T. Reconceptualising children's agency as continuum and interdependence. Social Sciences, v. 8, n. 3, p. 81, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.3390/socsci803008. Acesso em: 12 out. 2025.

ABEBE, T.; DAR, A.; LYSA, I. M. Southern theories and decolonial childhood studies. Childhood, v. 29, n. 3, p. 255–275, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1177/09075682221111690. Acesso em: 15 out. 2025.

BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Forense-Universitària, 2008 [1929].

BALAGOPALAN, S. Childhood, culture and history: redeploying “multiple childhoods”. In: SPYROU, S.; ROSEN, R.; COOK, D. (Eds.). Reimagining Childhood Studies. London: Bloomsbury Academic, 2018. p. 23-39.

BHAMBRA, G. K. Postcolonial and decolonial dialogues. Postcolonial Studies, v. 17, n. 2, p. 115–121, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1080/13688790.2014.966414. Acesso em: 10 nov. 2025.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Resolução n. 119, de 11 de dezembro de 2006. Brasília, DF, 2006. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselho-nacional-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-conanda/conanda. Acesso em: 6 nov. 2025.

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da República, 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 4 nov. 2025.

BRASIL. Plano Nacional Primeira Infância: 2010-2022 | 2020–2030. 2. ed. rev. e atual. Brasília, DF: RNPI/ANDI, 2020. Disponível em: https://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2020/10/PNPI.pdf. Acesso em: 6 nov. 2025.

BRITO, D. Sociologia da infância e o direito de voz das crianças: reflexões sobre o conceito de polifonia. Sociedad e Infancias, v. 8, n. 2, p. 263-273, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.5209/soci.97558. Acesso em: 10 nov. 2025.

BRITO, D. Polifonia e o direito de voz das crianças: diálogos entre a sociologia da infância e a educação musical da infância. 2025. Tese (Doutoramento) – Universidade do Minho, Braga, 2025. Disponível em: https://hdl.handle.net/1822/94998. Acesso em: 10 nov. 2025.

GAITÁN, L. Políticas de infância. In: TOMÁS, C.; TREVISAN, G.; CARVALHO, M. J. L.; FERNANDES, N. (Eds.). Conceitos-chave em Sociologia da Infância: perspetivas globais. Braga: UMinho Editora, 2021. p. 179-186.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.

HARDMAN, C. Can there be an Anthropology of Children? Childhood, v. 8, p. 501-517, 2001.

HONNETH, A. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Ed. 34, 2009.

JAMES, A. Giving voice to children’s voices: practices and problems, pitfalls and potentials. American Anthropologist, v. 109, n. 2, p. 261-272, 2007.

MIGNOLO, W. Epistemic Disobedience and the Decolonial Option: A Manifesto. Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, v. 1, n. 2, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.5070/T412011807. Acesso em: 10 nov. 2025.

RESOLUÇÃO da Assembleia da República n.º 75/2012, de 28 de maio. Diário da República, n.º 103/2012, Série I.

RESOLUÇÃO do Conselho de Ministros n.º 112/200, de 18 de dezembro. Diário da República, n.º 245/2020, Série I.

RIZZINI, I. Para além do adultocentrismo: atuação intergeracional em defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Sociedad e Infancias, v. 8, p. 239-263, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.5209/soci.97511. Acesso em: 10 nov. 2025.

SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, B.; MENESES, M. P. (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. p. 31-83.

SANTOS, B. S. Epistemologies of the South: Justice against epistemicide. London: Routledge, 2014.

SANTOS, B. S. Introdução às epistemologias do Sul. In: SANTOS, B. S. Construindo as epistemologias do Sul: para um pensamento alternativo de alternativas. Buenos Aires: CLACSO, 2018. p. 297-336. Organizado por Maria Paula Meneses, João Arriscado Nunes, Carlos Lema Añón, Antoni Aguiló Bonet e Nilma Lino Gomes. ISBN 978 987 722 382 8.

SARMENTO, M. J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: SARMENTO, M. J.; CERISARA, A. B. (Eds.). Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância e educação. Lisboa: Asa, 2004. p. 9-34.

SARMENTO, M. J. Visibilidade social e estudo da infância. In: VASCONCELLOS, V. M. R.; SARMENTO, M. J. (Eds.). Infância (in)visível. Lisboa: Junqueira & Marin, 2007. p. 25-49.

SARMENTO, M. J. Sociologia da infância: correntes e confluências. In: SARMENTO, M. J.; GOUVEA, M. C. S. (Eds.). Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 17-39.

SARMENTO, M. J. Vicissitudes do ofício de aluno: De novo, o insucesso escolar em questão. In: AFONSO, A. J.; PALHARES, J. A. (Org.). Entre a Escola e a Vida: A condição do jovem para além do ofício de aluno. Porto: Fundação Manuel Leão. p. 31-48.

SARMENTO, M. J.; FERNANDES, N.; TOMÁS, C. Políticas Públicas e Participação Infantil. Educação, Sociedade e Culturas, v. 25, p. 183-206, 2007.

Downloads

Publicado

2025-12-06

Como Citar

BRITO, Dhemy de. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA: DA MONOLOGIA INSTITUCIONAL À EPISTEMOLOGIA POLIFÓNICA: (Portugal). Caminhos da Educação: diálogos culturas e diversidades, [S. l.], v. 7, n. 3, p. e01–19, 2025. DOI: 10.26694/caedu.v7i3.7848. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/cedsd/article/view/7848. Acesso em: 13 dez. 2025.

Edição

Seção

ARTIGOS