Na maré dos scripts digitais: o caráter educativo da fanfiction “TODO MUNDO ODEIA O CHRIS”
DOI:
https://doi.org/10.26694/caedu.v1i2.9693Palavras-chave:
Página Facfiction, Episódio televisivo “Todo Mundo odeia o Chris”, Práticas de escritaResumo
Numa tentativa de trazer para a discussão as postagens da página digital Fanfiction intitulada “Todo mundo odeia o Chris”, este estudo procura privilegiar o âmbito educativo dessas práticas de escrita sobre o episódio televisivo homônimo no universo digital. As histórias contadas pelos sujeitos trazem à tona as suas representações, leituras, interpretações pessoais de mundo sobre as várias temáticas do cotidiano. Como num mosaico de experiências linguísticas, aquele site procura convidar os sujeitos a continuarem as aventuras vividas pelos personagens daquele episódio da televisão; agora quem é o autor da obra audiovisual é quem navega na internet. Os recursos da web, como numa coreografia digital, apresentam os seus movimentos na dança das novidades tecnológicas, o que pode instigar o sujeito a ver com outros olhos a modalidade de texto fan-fiction, que mergulha na maré dos gêneros digitais, das mídias e dos suportes das Tecnologias de Informação e Comunicação, tirando da sombra o debate sobre letramentos, as redes de sociabilidades e das emoções dos navegantes da internet diante da tela do computador. Quais os desafios a serem enfrentados pelos educadores para refletir sobre as variadas mídias e a formação social dos sujeitos? É possível pensar que as práticas de linguagem articulam palavras, sentidos, criam valores e práticas sociais a partir da cultura televisiva. Atividades de produção de textos na internet também podem contribuir para a construção e a ampliação de conhecimentos dos sujeitos sobre como refletir sobre as temáticas do cotidiano, abrindo caminhos para também promover um ambiente profícuo à discussão, à superação de preconceitos linguísticos, das relações sociais, raciais e de gênero, procurando tornarem visíveis estas temáticas que também dialogam com a vida. Cabe à tela, a capacidade de conceder um brilho à narrativa recriada no espaço midiático, na qual produtores e receptores manejam a linguagem, com vistas à produção de sentidos, demandando novas interpretações. Valho-me dos estudiosos (Marcuschi, 2008; Chartier, 2003; Fischer, 2001; Lemos, 2008) instigando-me a pensar que essas postagens representam valores culturais, representações, práticas de escrita que também fazem andar o carrossel das questões, das intervenções junto aos temas do cotidiano, ampliando, portanto, repertórios textuais que dialogam com as dimensões educativas a partir dos episódios televisivos.
Referências
ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia eletrônica: negociações como os processos digitais. Belo Horizonte: Veredas & cenários, 2008.
AYMARD, Maurice. “Amizade e convivialidade”. In: CHARTIER, Roger. História da vida privada, 3: da Renascença aos Séculos das Luzes. São Paulo, Companhia das Letras, 2009. p. 455-499.
BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1999.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1999.
__________. Questões de Literatura e Estética - A Teoria do Romance. São Paulo: Hucitec, 1998.
__________. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BOBBIO, Norberto. O tempo da memória – de senectude e outros escritos autobiográficos. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação – economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes do fazer. Petrópolis, Ed. Vozes, 2010.
CHARTIER, Roger. Formas e sentido. Cultura escrita: entre distinção e apropriação. São Paulo: Mercado de Letras, 2003.
CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Perseu Abramo, 2006.
CRYSTAL, David. A revolução da linguagem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
FERRÉS, Joan. Televisão Subliminar: socializando através de comunicações desapercebidas. Porto Alegre: Artmed, 1998.
__________. Televisão e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
FIORIN, José Luis. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2008.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão de Educação: fruir e pensar a TV. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
LEMOS, André. Cibecultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1999.
___________; LEMOS, André. O futuro da Internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010.
MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: a vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1995.
MARTÍN-BARBERO. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Edufrj, 1997.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria (org). Cabeças Digitais: O cotidiano na era da informação. Rio de Janeiro: Ed.Pucrio, 2006.
PAIVA, Jane. Os sentidos do direito à educação para jovens e adultos. Petrópolis, Rio de Janeiro: DP et alii, 2009.
ROSA, João Guimarães. Tutaméia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
SANDMANN, A. J. “Polissemia e Homonímia”. In: NEVES, M. H. de. Descrição do Português. Revista do Curso de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa. Ano IV, n. 1. São Paulo: Unesp, 1990, pp. 98-127.
SANTAELLA, Lúcia. Cultura e artes do pós-humano. São Paulo: Paulus, 2003.
__________. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
SIMÕES, Robson Fonseca. Memórias digitais: histórias escolares nas comunidades do Orkut. Appris: Curitiba, 2018.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.