HAUSKELLER, MICHAEL. MYTHOLOGIES OF TRANSHUMANISM

Autores

  • Jelson Oliveira Universidade de Exeter

DOI:

https://doi.org/10.26694/pensando.v8i15.6321

Resumo

Apresentando-se como eticista, o filósofo Michael Hauskeller, professor do departamento de Filosofia, Sociologia e Antropologia da Universidade de Exeter, no Reino Unido, tem se dedicado àquilo que poderíamos chamar de “filosofia do melhoramento humano”, ou seja, à análise das consequências éticas do Enhencement Project. Depois de publicar dois livros sobre o assunto (Better Humans? Understanding the Enhancement Project, de 2013 e Sex and the Posthuman Condition, de 2014), Hauskeller acaba de lançar, pela prestigiada casa britânica Palgrave Macmillan, o livro Mythologies of Transhumanism, no qual analisa os mitos fundantes do movimento transumanista, que pode ser considerado ao mesmo tempo uma filosofia e uma ideologia, na medida em que milita a favor do controle sobre a nossa natureza a partir das utopias do progresso tecnológico ou, como ele bem define, por meio de um Weltanschauung, ou seja, uma visão particular do mundo orientada pela ideia de perfeição, segundo a qual “somos destinados, não como indivíduos, mas como espécie, a nos tornarmos melhores do que somos atualmente” (p. 55). Ou seja, embora não tenhamos claro o que exatamente significa ser alguém melhor, resta quase óbvio que isso exige que sejamos algo que não somos ainda. O transumanismo promove a ideia de que devemos usar a tecnologia para modificar e melhorar a nossa natureza por meio de ideias como self-design, eliminação de várias formas de sofrimento, controle do comportamento, expansão da autonomia, conquista da imortalidade e, afinal, adquirir pleno controle sobre a natureza humana, a fim de transcendê-la (o que significa, quase sempre, derrotá-la). Do ponto de vista filosófico, tal visão de mundo parte da ideia de que o que nós realmente somos é algo que nós ainda não somos mas podemos nos tornar. Nesse sentido, o mito fundante do transumanismo, tal como analisado por Michael, é a ideia de perfeição, afinal, “o verdadeiro humano ainda está ainda para ser criado” (p. 56) e as mudanças seriam determinadas não a partir das habilidades já presentes nos seres humanos, mas, antes, a partir daqueles que lhes faltam e que podem/devem ser-lhes acrescentadas. O transumanismo não passaria, nesse caso, de uma luta contra a natureza, considerada como uma inclinação ao mal, na medida em que está carregada de defeitos e, consequentemente, como uma doença contra a qual precisamos nos prevenir. Prevenção, agora, conforme demonstra Hauskeller, significa reforma, conserto, cura. Nesse sentido, não se trataria apenas de construir uma outra natureza, mas negar a ideia mesma de uma natureza, considerada como apenas um conjunto de limites que precisam ser vencidos: “a natureza dos seres humanos melhorados é, de fato, uma não-natureza” ou, em alguns casos, uma anti-natureza.

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Publicado

13-10-2017

Como Citar

OLIVEIRA, Jelson. HAUSKELLER, MICHAEL. MYTHOLOGIES OF TRANSHUMANISM. PENSANDO - REVISTA DE FILOSOFIA, [S. l.], v. 8, n. 15, p. 369–376, 2017. DOI: 10.26694/pensando.v8i15.6321. Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/pensando/article/view/3378. Acesso em: 4 nov. 2024.