AS RESSONÂNCIAS DA TEORIA CRÍTICA DA TECNOLOGIA DE ANDREW FEENBERG NA PRÁTICA BIOMÉDICA

Conteúdo do artigo principal

Paulo Thiago Alves Sousa

Resumo

O presente artigo empreende uma reflexão sobre a ressonância política e ética da teoria crítica da tecnologia de Andrew Feenberg, especialmente na prática tecnocientífica biomédica. Referida ressonância ganha destaque no papel exercido pela ativa cidadania técnica no âmbito biomédico. Partindo de uma crítica ao projeto tecnocrático de intervenção paternalista, demonstra-se que abordagem democrática pensada pelo construtivismo crítico da tecnologia de Feenberg orienta criticamente a tradução e a implementação tecnológica de projetos biomédicos socialmente engajados ou enviesados. Para cumprir o exposto serão desenvolvidos dois momentos: No primeiro apresenta a abordagem democrática do construtivismo crítico, dando destaque a teoria da cidadania tecnológica organizada em forma de redes pelas agências e interesses participantes capazes de redefinir, em torno de seus interesses e necessidade sociais, morais e culturais o design (projeto) técnico. No segundo momento, expõe o exercício da política técnica, fundamentada pelo interesse participante, no âmbito da prática e da tecnologia biomédica, com ênfase na atenção à saúde. Assinala, como destaque nesse ponto da discussão, o conceito de Medicina ciborgue (adaptado da teoria ciborgue de Donna Haraway) pela qual a noção de sujeito é ressignificada ou desconstruída a partir da relação simbiótica e fluida entre tecnologia, corpo e sociocultural. Desse modo, afastando a concepção de cidadania moderna, situa-se contemporaneamente a indispensável inclusão do exercício da cidadania pelos pacientes na fundamentação dos empreendimentos biomédicos. Conclui-se que a teoria da cidadania tecnológica pensada por Feenberg possibilita uma reflexão ampla e prolífica sobre a implementação de uma política médica que pressupõe a participação ativa da comunidade e um engajamento sócio-ético-político dos profissionais da saúde.

Detalhes do artigo

Como Citar
Alves Sousa, P. T. . (2021). AS RESSONÂNCIAS DA TEORIA CRÍTICA DA TECNOLOGIA DE ANDREW FEENBERG NA PRÁTICA BIOMÉDICA. Cadernos Do PET Filosofia, 12(23), 83-99. https://doi.org/10.26694/pet.v12i23.1922
Seção
DOSSIÊ

Referências

BRANDÃO, Cruvel; Dagnino, Renato; Novaes, Henrique T. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: Dagnino. R. (Org.). Tecnologia Social: Ferramenta para construir outra sociedade. Campinas, SP: KOMEDI, 2010, p. 71-113.

FEENBERG, Andrew. Chapter Five. On being a human subject: AIDS and the crisis of Experimental Medicine. In: Alternative Modernity: the technical turn in philosophy and social theory. University of California Press, 1995.p.96-118.

_________________. Between Reason and Experience: essay in technology and Modernity. London: Massachusetts, 2010

_________________. Questioning technology. London: Taylor e Francis e-Library, 2001.

__________________. Da informação à comunicação: a experiência francesa com videotexto. In. Neder. Ricardo (Org.). A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática, poder e tecnologia. Observatório do movimento pela tecnologia Social na América Latina/CPS/ CAPES, 2013, p. 119-152.

__________________. On being a human subject: interest and obligation in the experimental treatment of incurable disease. The Philosophical Forum.Vol. XXIII, nº 3, Spring, 1992. Disponível em: https://www.sfu.ca/~andrewf/books/On_being_human_subject_interest_obligation.pdf. Acesso em: 12/02/2021.

__________________. Technosystem: the social life of reason. Harvard University Press, 2017.

__________________. Transforming technology: a critical theory reviseted. Oxford University Press, 2002.

__________________. Tecnologia, Modernidade e Democracia. Trag. Eduardo Beira. Lisboa: MIT Portugual, 2015.

FERNANDES DE SOUZA, Luis Eugenio Portela. Saúde, desenvolvimento e inovação: uma contribuição da teoria crítica da tecnologia ao debate. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, n.32, Sup. 2, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00029615. Acesso em: 12/02/2021.

GLAZEBROOK, Trish. An Ecofeminis Response. In. VEAK, Tyler. Democratizing technology: Andrew Feenberg’s Critical Theory of Technology. New York: State University of New York Press, 2006. p. 37-52.

HARAWAY, Donna J. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: HARAWAY, Donna J; KUNZRU, Hari; TADEU. Tomaz (Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens dos pós-humano. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. Disponível em: http://vidaboa.redelivre.org.br/files/2018/03/ANTROPOLOGIA-DO-CIBORGUE.pdf. Acesso: 12/03/2021.

JUNGES, José Roque. Biopolítica como teorema da bioética. Revista Bioética, vol. 26, n. 02, Brasília, Abr./Jul 2018. Disponível em: : https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S198380422018000200163&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso: 12/02/2021.

MEYER, Dagmar Estermann; VARGAS, Mara Ambrosina de Oliveira. A textualização de corpos doentes através de imagens: uma das lições da UTI contemporânea. REV. Bras. Enferm, Brasília, març/abr; 56, 2003, p. 169-174.

PARSONS. T. The Social System. The Free Press. Glence III. 1967.